Metade
Abria os olhos, já se fazia noite em meu coração.
Arestas visíveis de uma alma contrita e sem cor.
Tudo me cansava, numa prisão fechada, infecunda solidão.
Que esmagava meu corpo mórbido, inerte e sem amor.
Na penumbra angustiante do sossego, inquietação.
Que trazia à tona a paisagem, o olhar míope do interior.
Na linguagem estilhaçada do silêncio que me invadia, opressão.
Passageira, minha alegria doía tanto como a minha dor.
Agora, renunciarei aos malefícios do medo; é uma libertação.
Embrenhar no esforço de raciocinar a tristeza?
É um dos malefícios dos que só pensam com a emoção.
A vida, hoje, me esculpe como se assim me bastasse, nobreza...
E na noite fechada, em que os sonhos eram um refúgio estúpido, ilusão.
Num múrmuro momento, eles feriam a carne de minh'alma, ansiedade...
E na clareira dos atalhos da angústia, agora fujo da morte, redenção.
Fecho as portas de minhas janelas, para me tornar a "sua" metade...
Maria Amália Gouveia
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