O tempo me fez o canto mais sutil,
Fizeste reconhecer-me e a desconhecer-me,
Mas não é desconhecendo-nos que aprendemos
Conhecer mos a nós mesmos?
Tu tempo me fizeste exaurir e aprender a esperar
Desfizeste-me e me fizeste,
Tornando-me homem e tolo,
Por que não uma toupeira e bobo?
Mas não é preciso ó tempo,
Ser tolo e louco para aprender a ser homem?
Como foi tão bondoso para me trazer desesperos,
Como foi tão traiçoeiro, astuto e impreciso
Para me trazer ventos bons!
Perceptível e imperceptível
Na dança dos pássaros de asas azuis
Mesmo que para isso tu fugias!
Saber onde estou, onde estou?
Não saber para onde vou, de onde vim?
Eis a tua sabedoria e o teu enigma!
Preso a mim e eu tão preso a ti,
Hora me ensinando, hora me desaprendendo
Feito o meio dia, feito meia hora e a meia noite!
Fizeste ó tempo o povo me enxergar
E num só golpe cegá-los diante de mim!
Mas me trouxeste o meu súbito soluço
Meu tesouro, o meu eu e a minha sagrada sabedoria,
O sossego do anonimato!
É por isso que aprendi melhor a escutar os grilos e as cigarras,
E apurar os meus ouvidos para a música que faz dançar os animais!
Ó tempo, me fizeste falador
E tão cedo de tanto falar tive que calar...
E insisto em falar... falar... até tagarelar...
Mas sempre tu me deste o silêncio
Às vezes eu percebia e recebia esse tesouro
Hora me atolava e chorava o ouro perdido!
Mas só tu ó tempo por tão longo que seja
Prosseguirá me puxando, me guiando
Mostrando-me caminhos largos e apertados
Talvez que nem existam,
Até que um dia, um belo ou triste dia
Meu corpo desista de ti,
E entrarei devorado por completo
No grandioso do teu enigma!
MEUS POEMAS
João Afonso
Meus poemas são aqueles que voam ao leu
Furando as cortinas de uma janela aberta e
Pairando no céu...
Publicá-los seria teu ultimo caso
Pois eles se distraem muito fácil
Com qualquer bicho voador.
Estão muito além da compreensão do homem faminto
Pois hora não querem dizer nada...
Ser nada faz parte da loucura destes poemas loucos
Pois quem os escreve, ao final de cada um
Deve ser morto a chineladas por qualquer sistemático do saber!
Eles voam... Voam...
Apagá-los seria uma “ honesta distração”
Pois eles insistem em fugir do papel quer queiram quer não.
Não seriam então palavras ao vento?
Assim são meus poemas,
Aqueles que saem de foles, berrantes foles mudos
Para muitos e ao mesmo tempo para ninguém!
Não seriam então palavras “de” vento?
Para que servem então as palavras de vento?
Servem para espantar os mosquitos
Que pousam em músicas!
Que escutam plantas e
Tocam em varinhas de bambu!
Assim são meus poemas,
Canção para poetas loucos,
Suco para guardas noturnos invisíveis!
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